sábado, 22 de outubro de 2011

Eu comigo mesmo — ou "No começo, era o verbo..."

Bem gente, é isso aí! Cá estou, gozando (no bom sentido, claro! — não que no outro seja ruim: isso jamais!) das comodidades que o progresso tecnológico do mundo contemporâneo propicia. Decidi criar um blog; não que antes não tivesse pensado nisso, mas nada como bom incentivo, né? Daí, meu sincero agradecimento a minhas cunhadas, Jéssica e Michelle, irmãs de minha Vanessa, e a esta, que igualmente apoiou a ideia —  sim! ideia delas, principalmente de Jéssica, internauta de carteirinha como eu.

Em um primeiro momento, indagará o leitor: Por que delas a sugestão? Vale dizer: Logo que surgiu o fenômeno da rede mundial, meu pai adquiriu, no final da década de 1990, um computador. Nunca mais sairia eu da frente da tela... Lembro-me bem do ICQ. Chat de bate-papo era febre... Garotas? conheci aos montes; volta e meia, aparecia com alguma. MSN? Quantas baladas não foram combinadas em tardes de sábado por meio dele, ou amigos choraram pra mim ou contaram-me conquistas pessoais do outro lado da tela? Orkut? Nunca pensei que um dia, essa rede social daria lugar a qualquer outra. Não havia ferramenta para estreitar relacionamentos melhor. Todos meus amigos, pessoas conhecidas, possuíam conta. Fui orkuteiro de plantão, a ponto de ter 5.000 fotos postadas, mais de 800 comunidades, uma porrada de gente na lista de amigos... até uma tragédia, para um viciado em rede social, ocorrer: Certa manhã de domingo, sei lá por que cargas d´água, ao sair da cama, fui direto pro computador. Senha digitada, tudo como manda o protocolo, para acessar minha conta. Apertei "enter"; nada. Cliquei de novo; nada. Resolvi fuçar. Pra quê?... Resumo: O Google me deletara! Isso mesmo: O Google achou por bem excluir minha conta por violar, sei lá por qual motivo, os termos de serviço. Xinguei, e xinguei com gosto... e, depois, pensei: — Porra... por que esse filho de uma puta, em pleno domingo, logo cedo, me excluiu??? Se era pra acontecer, fosse ao menos segunda-feira!!!! Ainda cogitei: — Essa merda se deu, será porque havia uma foto de um ilustre e culto ex-presidente brasileiro, que nem síndico de condomínio fora, ao lado de sua parasitária primeira-dama, ambos com focinho de porco, postada em meu Orkut ao tempo do surto de gripe suína??? Bem, já era...

Com o fim de minha conta, percebi, coincidentemente ou não, o Facebook tornando-se preferência no mundo virtual. De começo, cultivei certa prevenção. Não vi com bons olhos. Como tantos, criei reservas, disse a mim mesmo que era muito complicado mexer com aquilo... porém, virou droga: Hoje, não vivo sem. Passou a ser um meio de, ao contrário do tanto de merda que leio por aí, besteirol master, expor ideias minhas, de outros; citar o que cabeças pensantes produziram ao longo da história, gente que me influencia o modo de agir e ver o mundo.

Dias atrás, Jéssica sugeriu-me fizesse eu um blog, após ler um dentre tantos comentários, algo em tom de monólogo, que costumo fazer ao que frequentemente publico em minha página do Facebook. Aliás, certa vez, havia eu pensado, firme, ter um lugar só meu, eu comigo mesmo, para publicar o que viesse à cabeça; sair, talvez de redes sociais. Sim, sou individualista. Sou consciente disso que, para mim, é defeito meu. O nome: "Blog do Perera"; isso mesmo: "Perera", em vez de "Pereira", meu nome, por sugestão de meu grande amigo e irmão, Marco Aurélio Ferreira, que fora o primeiro, em tom de brincadeira, a chamar-me assim — "Perera" —, e pegou. Sem o "i" mesmo. Hoje, para a maioria dos amigos, sou o "Perera", afora os apelidos — "Pererucho"; "Iban, el Milonguero"; "Tio Ivan"; "Tiozinho"; "Junior Boy" etc —, dentre os quais, o primeiro, "Perera", detem, de longe, a liderança.

Acabei, por uma semana, caindo fora do Face, e saí. Os mais chegados apelaram, reclamaram, disseram alguns entrarem, muitas vezes, para ler meus posts; outros, por ser a página mais legal que conheciam, que alguns entravam por minha causa, e patati-patatá... essas coisas, creio, ditas para me colocarem pra cima quando eu parecia estar "down", dado o momento que eu vivia, em agosto passado. Atendi aos amigos, achei por bem voltar, e fi-lo com força total; mas essa é outra história...

Hoje, em seguida à pizza que pedimos, do modo mais estranho possível — dirão as pessoas "bem educadas", os "normais" —, o tal blog começou a materializar-se. Estávamos à mesa eu, Vanessa e ela, ao que me perguntei o porquê de Deus ter criado o cocô, não pelo cocô em si, mas, ao que parece, não satisfeito em permitir à humanidade, mediante o "fazer cocô" ser plenamente feliz e mais leve, ter-lhe atribuído o odor que o caracteriza. Argumentei: Ora, cá entre nós, por simples lógica, se Deus é onipotente, onisciente e onipresente, eterno, soberanamente justo e bom, não teria Ele previsto os inconvenientes que o cocô acarretaria — novamente, não por ele, e sim pelo que exala? Pensemos naqueles casos em que a garota apresenta aos pais o moço de quem está enamorada; digamos que, desastrosamente, nesse dia, o gajo não esteja lá muito católico... — no almoço, misturou canelone com tempura, grão de bico e isca de peixe...; e indo mais longe, justo quando põe pela primeira vez os pés na casa paterna da namorada, a barriga grita e ele enxerga no banheiro a luz do fim do túnel, a tábua de salvação, a única saída para sua constipação, que se avoluma à medida em que o pai da menina faz sala, a mãe propõe servir a sobremesa, após lauto jantar... Bem, pede gentilmente o quem sabe futuro genro se pode usar o banheiro, e constata este situar-se em frente — sim, bem em frente! — do recinto onde todos o recebem de braços abertos! É aí que mora o perigo — ou melhor, habitam vários perigos. Enumeremos: 1. O rapaz providencialmente se ausenta, e ao começar o trabalho, lembra do velho ditado: De cabeça e juiz e fralda de bebê, ninguém sabe o que vem! Iniciada a empreitada, depois de entregar sua sorte nas mãos de Deus e aos cuidados das boas almas, nota que, com a argamassa, vem o gás letal, saído, para sua desgraça, como um carnê das Casas Bahia — em suaves, porém quase infinitas prestações; 2. O intestino, por causa do feijão do dia anterior, rompe o silêncio do banheiro, e do mais profundo eu de nosso infeliz amigo, flatulências ruidosas, daquelas feito mísseis atômicos, denunciando o que o garoto faz e ecoando sem piedade nas paredes...; 3. Sabe nosso herói que um pequeno, quase insignificante fósforo, para depois da obra, pode salvar a pátria, os pulmões e queimar os miasmas na atmosfera do banheiro, apagando qualquer registro odorífero; 4. Não há fósforo...; 5. O cidadão se desespera — e não é pra menos; 6. Começa a rezar o Pai-Nosso; 7. Sabe que a média usual para uso de um sanitário é 3 a 4 minutos, suficiente para um xixi amigo e pronto — acima de 5 minutos (para quem está do lado de fora, uma eternidade), o sujeito se conscientiza de que seus anfitriões tem certeza quanto ao que o visitante foi aprontar...; 8. Chegada a hora fatal: Sair do banheiro, depois de 10 minutos lá dentro... Nesse momento, em razão do tempo dentro do W.C., o nariz do rapaz, já acostumado pelo tempo com a marofa podre, não percebe o poder destrutivo do rastro gasoso que o segue... até a presença dos donos da casa! Apenas um pensamento o dilacera: Por quê? Meu Deus... Mereço isso?

Percebe-se? A palavra de ordem do dia: Constrangimento. Falar de cocô convencionou-se pior do que o produto. Uma vergonha qualquer — a famigerada "vergonha alheia" — toma conta da vítima, diante dos olhares acusadores — a essa hora, qualquer olhar, ainda que não, é acusador. A pessoa disfarça, sai do banheiro já falando sobre o resultado do último jogo do Santos — sem saber que são os donos da casa todos corintianos. Daí o caldo entorna de vez; nosso amigo balbucia a si mesmo: — Não estou aqui! e começa, pois, a mesma alta indagação que ora faço ao leitor: A inutilidade de o cocô ter cheiro. Poxa... Deus, em sua perfeição, não poderia, simplesmente, ter livrado o cocô de emanar o que emana? Ou, porque necessário um gás qualquer, tê-lo feito inodoro? Para os ateus, um prato cheio para falarem mal do Creador, dizerem que esse deus é um deus mal, perverso; que se compraz de ver em seus filhos meros títeres, submetidos a escarmento, muita vez, por liberar ingênua, inocente flatulência – escarnecidos, ou com o sentimento de escarnecidos, o que julgo pior; um deus que, ao crear o universo e o cocô, e lhes manipular a composição química, em vez deste gás pútrido, colocasse aquele outro, imperceptível ao olfato e que não desse lugar a incômodos atmosféricos... evitando, assim, repito, o que considero a "vergonha alheia" suprema, a vergonha-mor, a pior das piores vergonhas. Pense-se um recinto fechado; um elevador de um edifício de escritórios! Enfim!

Mas... Deus é Deus – e bem provável o Altíssimo ter assim deliberado, com intuito de lembrar aos homens – ó! pobres homens... – que do pó vieram e ao pó tornarão, e, por mais que se untem de essências e fragrâncias e assim passem toda a vida terrena, perfumados, algo, ainda que uma única característica, os iguala, nivela e atrela: O mal cheiro que possuem as fezes — leia-se: restos dos alimentos ingeridos. Ricos ou pobres, monarcas ou mendigos, brancos ou negros, carecas ou cabeludos, magros ou gordos, bons ou maus – todos, absolutamente todos, comam caviar ou rapadura, fazem cocô!; e está para nascer quem o faça destituído do desagradável odor que emana! Quem sabe o Senhor, em sua infinita sabedoria, ao dotar o cocô de mau cheiro, quis mostrar aos homens todos serem iguais, ninguém mais que ninguém, e que todos, sem distinção, se em vida não fedem, certamente, federão na morte? Sim, sempre há uma razão secreta, muito mais plausível e além, ante a diminuta razão humana...

Ao pum, aplica-se tudo o que se disse no tocante ao cocô.

Finda a exposição, quase uma aula acerca do que me parece um absurdo, um disparate, já que o odor do cocô acaba sendo um entrave para o que reputo solução, ao menos de caráter psicológico, de muitos problemas existentes em diversas áreas de atuação da humanidade, imediatamente, Jéssica e Michelle se viraram e me disseram:  Vamos fazer o blog já! Você é um cara excêntrico; lá, poderá colocar tudo isso!

Merda à parte, aviso aos navegantes mais desavisados: Não se escandalizem com este introito, verdadeira crônica que veio a lume despretensiosamente, sem qualquer intenção de sê-lo, mas que, no frigir dos ovos, acabou tornando-se uma crônica de merda  literalmente! Ainda assim, merda por merda, a bosta tem lá sua importância, senão, o grande filósofo iluminista francês Voltaire, com todo seu gênio, ironia e argúcia, não teria, assim como aqui expendi, dedicado um verbete ("Da Dejeção") de seu Dicionário Filosófico, de 1764, àquilo que todos, reafirmo, todos fazemos, sem exceção, quer duas horas uns, quer quatro horas outros, quer quatro dias outros ainda... após banquetearmos-nos das melhores iguarias, os maiores quitutes, as comidas mais exóticas. Tudo se transforma em matéria pútrida e fedorenta. Para alguns, parece triste, até bizarro, porém realidade, inobstante incomode... A verdade incomoda! Eis, para os mais curiosos, o verbete "Da Dejeção", de Voltaire:

"Que não nos cause espanto o fato de que o homem, com toda a sua pompa, nasça entre a matéria fecal e a urina, uma vez que estas partes dele mesmo, mais ou menos elaboradas, mais freqüente ou mais raramente expulsas, mais ou menos pútridas, decidem seu caráter e a maioria das ações de sua vida.

Começa a ser formada no duodeno a sua merda, assim que os alimentos saem do estômago e impregnam-se com a bílis do fígado. Caso tenha uma diarréia, o homem fica lânguido e doce, falta-lhe força para ser maldoso. Caso esteja apenas constipado, os sais e o enxofre de sua merda entram no quilo, trazendo a acrimônia para seu sangue, fornecendo freqüentemente a seu cérebro ideias atrozes. Um homem assim (e o número é grande) só comete crimes causados pela acrimônia de seu sangue, oriunda unicamente dos excrementos que alteram seu sangue.

Ó homem, que ousas dizer-te à imagem de Deus! Dize-me se Deus come e se tem tripas!
Tu, imagem de Deus! E pensar que teu coração, tua alma, depende de uma evacuação!"

Se Voltaire, que é e sempre será Voltaire, por séculos e séculos, ousou falar de merda... quem sou, em minha infinita pequenez de saber, a fim de contrariá-lo? Por outro lado, se ele pôde, por que não eu, igualmente, falar de merda? Não que eu fale merda!!! Ah... Calo minha boca!!! De uma coisa sei: Falando ou fazendo, é com merda que se aduba a vida!

Bem, deixo-me parar por aqui. Meus sogros chegaram da padoca, Vanessa capotou no sofá, minhas cunhadas procuraram o caminho da cama, são 0h 20min de sábado e preciso dar o pira do notebook de Vanessa, pois amanhã, logo cedo, levarei o carro para a oficina!

Sejam todos benvindos! Até a próxima!

Santos, 22/10/2011
Ivan Pereira Santos Junior


3 comentários:

  1. Parabéns pela idéia. Parabéns pelo conteúdo. Parabéns pela sinceridade de ser quem és.Finalmente, parabéns pela iniciativa de mostrar que ainda existem coisa boas para ler. Um forte abraço.
    Tia Cristina

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  2. Agradecido, Tia Cristina! Sua opinião é muito importante!

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