sábado, 10 de dezembro de 2011

Poema da Vida Inteira

Quanta insensatez, meu Deus!
De repente, da alegre reunião de amigos,
Chego a casa.
O lar deserto. O silêncio...
A sala escura.
A vida se me desenrola ante os olhos, e, atônito,
Cada fato, cada lance, cada instante,
                        [pormenorizadamente, se me afiguram
Qual acabados de serem vividos, ou revividos
                        [─ e paro. Triste. Deprimido.
Uma qualquer angústia ─ a angústia do incerto.
Os extremos opostos da existência, num átimo, batem à porta;
                        [querem sentar-se à mesa.
Agora, impende, uma vez mais, subir o contrafluxo do rio.
Tudo o que desce tem de subir.
Cabe-me, sim, respirar pausada e não menos profundamente, e
Encontrar o silêncio e a calma, a consciência da calma.
Uma impressão qualquer de chegada a hora de despedir-me,
Hora a que me preparei dois terços desta vida...
(Mas... não quero, no fundo, bem lá no fundo, não quero.)
Cada livro não escrito. Cada música não composta.
Cada palavra não dita. Cada atitude não positivada.
E os livros na estante? Os que me aguardaram anos?
Tudo, para mim, é pouco. Ah!... é direito que me arrogo
Permanecer! Cumprir um ideal!
Entanto, sempre falta algo...
Tudo parece pouco...
As músicas que ouvi, os discos que toquei,
Cada conselho que dei, cada velha história, o verso usado...
O riso frouxo, as meras lembranças, a boemia, as madrugadas e
                        [quantos prantos a mulheres tolas
                        [e imerecidas.
Os amigos! Ah! Os amigos...
E o Nada, em meio da convulsão do espírito,
Da excitação dos sentidos, à luz da comoção do espetáculo,
O Nada se agiganta e me defronta, a intuir superar-me,
Como quisesse tornar-se Tudo, e tomar cada recanto do jardim
                        [da alma negra e vígil.
Inquisitivo, assemelha-se o Nada a um verdugo
E questiona-me o porquê, a razão, o motivo de eu não ter feito
O que poderia sê-lo, ou ter sido feito.
O motivo de eu não ter sido o que sonhara há anos
                        [e pretendera conquistar.
Pergunta-me ele que é Ser. O motivo de eu não ter sido.
Agora, em meu presente Agora, respondo-lhe que EU SOU!

Santos, 10/12/2011.
(Dez dias antes da cirurgia da coluna cervical...)
Ivan Pereira Santos Junior 

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