domingo, 22 de janeiro de 2012

Elogio (ou as leis) da Amizade. — São os amigos aqueles seres dotados de virtudes e defeitos, porque humanos, não angelicais, que a vida coloca em nosso caminho, na qualidade de emissários do Amor e dignitários sinceros e honestos da Fraternidade.

Amigos, por corolário lógico da amizade, são íntegros no agir relacional, respeitam-se mutuamente; na hora certa, ouvem e calam; no aconselhamento, olham-se nos olhos e falam; e, munidos da verdade que lhes é inerente, promovem o entendimento mediante diálogo.

Amigos importam-se uns com os outros, telefonam-se, escrevem, buscam informações, notícias do outro. Um amigo, sem por em discussão a justeza ou a veracidade do direito de pedir ou do pedido alheio, rende, quando preciso, especial deferência ao espaço de outro amigo, quando este, de qualquer modo, demonstra querer solidão para pensar melhor, por em trânsito melhor as ideias mais íntimas, inconfessáveis e profundas; refletir melhor; rir ou chorar melhor.

Em tudo, amigos observam a moral, a exemplo, consentânea ao matrimônio: A prevalência do companheirismo e da assistência material e espiritual, da fidelidade, da honra e da lealdade na alegria ou na tristeza, na enfermidade e na saúde, na penúria ou na riqueza. Amizade é o casamento de almas...

Amigos se revelam mais sob o signo da ação, não da palavra — embora, fique claro: A palavra edificante, no momento de aflição, vale mais do que mil gestos.

Amigos não se omitem: Procedem bem e nobremente, ainda que incida em derredor a desgraça.

Amigos, mormente sob toda sorte de adversidade, colocam-se presentes, e se dispõem física, moral, mental, racional, emocional e espiritualmente ao lado — não atrás ou adiante — do mais aflito; daqueles é que advêm o estímulo, a força, o conforto, a advertência e a certeza da necessidade de prosseguir, por mais grave o caminho e sinuosa a senda, a se colocarem, a qualquer hora, à disposição para a conversa benfazeja, o abraço afetuoso ou o olhar silente e companheiro.

Amigos se compreendem só de olhar.

Amigos constituem o reflexo de nós mesmos. Como espelho, por estabelecerem tal frequência, uma compatibilidade, uma afinidade, uma identidade, são eles aquilo que somos, pensamos e fazemos. Talvez, por isso, considerou Pitágoras: “Amizade é igualdade”.

Por derradeiro, independentemente de laços parentais, sexuais, sociais, étnicos, religiosos ou políticos, apanágio da amizade é a livre escolha, pois amigos se reconhecem, já dissera Vinicius de Moraes. Daí sucede que os maiores  irmãos consistem nos que se podem tratar, um ao outro — francamente, de peito aberto e coração limpo —, de “AMIGO”.


Santos, 22/01/2012.
Ivan Pereira Santos Junior
(Do livro "Vamos Ensaiar Uma Canção?, ou O Homem Como um Destino")

                   

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