sexta-feira, 23 de março de 2012


Alguns apontamentos acerca da questão da unanimidade:


"Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.
(Nelson Rodrigues)


Doze jurados devem decidir se um homem é culpado ou não de um assassinato, sob pena de morte. Onze têm plena certeza que ele é culpado, enquanto um não acredita em sua inocência, mas também não o acha culpado. Decidido a analisar novamente os fatos do caso, o jurado número 8 não deve enfrentar apenas as dificuldades de interpretação dos fatos para achar a inocência do réu, mas também a má vontade e os rancores dos outros jurados, com vontade de irem embora logo para suas casas.
(Sinopse do filme “Doze Homens e Uma Sentença”, 
de Sidney Lumet)


Toda lei que não deixa em aberto a possibilidade de sua execução, justamente por sua obediência, é uma arbitrariedade. Uma curiosa postulação do Talmud enfatiza este conceito através da desqualificação da unanimidade. O que à mente moderna e democrática pareceria um modelo é percebido pelo Talmud como um desastre potencial para os interesses humanos. Segundo o Tratado de Sanhedrin, em casos de julgamento de penas capitais — quando se faziam necessários 23 juízes —, caso houvesse unanimidade na condenação do réu, o julgamento era desqualificado e este liberado. O sentido de tal lei, expressão da alma e obviamente subversiva, é a desconfiança de que um processo possa ser tão bem conduzido que não paire qualquer dúvida quanto a uma leitura diferente da situação. A unanimidade expressa uma acomodação à verdade absoluta que é insuportável à vida e que tem grande potencial destrutivo. 
(...)
É a alma que detecta isso, são seus interesses que ficam prejudicados nessa unanimidade. A opinião pública, os dogmas, as convenções, a moralidade e as tradições podem muitas vezes querer representar uma unanimidade que os desqualifica como determinadores do que é justo, saudável ou construtivo.
(Nilton Bonder, A Alma Imoral)


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