sábado, 24 de março de 2012

Ninguém é insubstituível? Pura bobagem...Há muito, o humor brasileiro perdeu a graça — alguns indivíduos arriscam-se; porém, quando querem ironizar, arvorar-se à condição de sujeito espirituoso, tomam qualquer pessoa como alvo de trocadilho de tão mal gosto quanto eles o imaginam bom. Às vezes, começam bem; normalmente, terminam mal. Já os grandes nomes do teatro e da televisão brasileira, que fizeram, durante anos, com vivacidade e verdadeira veia comediante, o povo rir e esquecer momentaneamente seus sofrimentos, de toda ordem, deixaram este plano da Vida, ensejando lacunas insubstituíveis. À companhia desses artistas, hoje, somou-se a do ator, dublador, escritor, compositor, pintor e, sobretudo, maior humorista brasileiro de todos os tempos, notório por haver criado 209 personagens: O iluminado Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho — falecido hoje, dia 23/03/2012, às 14h 52 min, depois de longa batalha hospitalar, travada desde 22 de dezembro de 2011.

Logo que soube da lamentável perda, ao ler o noticiário da internet, entristeci-me. Chorei. Chorei muito. Chorei sentido, pois o humor de Chico Anysio povoou toda minha feliz infância, tornando-a mais feliz, e porque meu pai o adorava, e imitava, para minha diversão, algumas vozes que conferiam vida a criações como Azambuja, Lingote, Gastão, Tavares. Chorei, não apenas por Chico, mas pensando no Brasil, no sofrido povo de meu país, que, durante décadas, riu com ele. Chorei, pensando em como é melancólico o desaparecimento de alguém cuja vida inteira fora consagrada a levar, única e exclusivamente, alegria às pessoas — quiçá, tornando menos pesado o fardo de cada uma delas, em um mundo de guerras, intolerância, incompreensão.

Adeus, gênio! Adeus, mestre do riso, da alegria, da versatilidade, da sutileza! Adeus, modelo inegável de “stand up comedy”! Creio eu, parte o último representante pátrio do que se pode considerar um humor inteligente, sagaz, refinado — livre do escárnio gratuito, isento da mofa de sarjeta, limpo de qualquer laivo de deboche espontâneo; sem a exploração da miséria humana ou a zombaria a quem quer que fosse.

Talvez, os mais novos não se recordem, mas, quando muitos artistas do humor, já idosos, egressos da “era do rádio” brasileiro, com o advento da televisão, aos poucos, foram alijados, preteridos, postos nas geladeiras da indústria teatral e televisiva, foi Chico Anysio quem, por meio do quadro “Escolinha do Professor Raimundo”, dera emprego a todos eles, recolocara-os, uma vez mais, diante do público para fazê-lo gargalhar — apenas para citar um feito seu.

Adiante e sucesso, Chico Anysio — pois, se se aqui derramam lágrimas, certamente, o Plano Maior da Existência se abre em sorrisos à tua chegada, a teu regresso. Aqui, a gratidão e o abraço modesto de um brasileiro, fã declarado e incondicional, a outro brasileiro!

Santos, 23/03/2012
Ivan Pereira Santos Junior


















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